Enquanto o Congresso acelera o ronco dos debates sobre cassinos, bingos e jogo do bicho, lideranças evangélicas soam o toque de recolher moral. Assinada por 15 pastores de peso, uma carta do CIMEB (Conselho Interdenominacional de Ministros Evangélicos do Brasil) pediu oficialmente que a pauta seja rejeitada no Senado.
O documento aponta que legalizar a jogatina não é jogo, é armadilha: juros, dívida, desemprego, desgaste emocional, aumento da criminalidade e até risco de suicídio. E não é opinião: citam pareceres da Polícia Federal, PGR e Sindifisco contrários à proposta. A justificativa fiscal não compensaria o “custo social gigantesco”, segundo os religiosos.
O texto garante que, se a proposta avançar, os líderes vão caguetar, ou melhor, expor publicamente os senadores que votarem a favor, com pressão direta sobre a bancada evangélica e a base eleitoral nas próximas eleições.
O projeto PL 2.234/2022 já passou pela CCJ do Senado e chegou ao plenário. Ele inclui cassinos integrados a resorts, bingos, aposta esportiva e até o jogo do bicho. O relator, senador Irajá Silvestre (PSD‑TO), quer votar antes de 18 de julho. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, prometeu pautar o tema. O Centrão e o governo falam em arrecadação e turismo. O CIMEB, em famílias destruídas.
Fé na retórica e veto moral
Os líderes evangélicos jogam pesado: comunicação clara e ameaça de retaliação política. Não é oração, é pressão programada.
Arrecadar ou fragmentar? Enquanto o governo vê uma usina de tributos, os pastores enxergam explosão de dívidas e dependência.
Mentores de voto ou sacerdotes do juízo final? O risco é que o pastor vire chefe de bancada. No entanto, se política virou culto, o rebanho perdeu a espiritualidade. Será o Brasil dominado por um modelo de fé política que decide aliança pelo bolso ou pelo altar? (SP)