Símbolo de valores cristãos, a formiguinha Smilinguido perdeu sua casa no Recife. Em sua melhor fase, a Editora Luz e Vida chegou a ter 13 livrarias no país. Com 250 metros quadrados, a unidade no centro da capital pernambucana estava sempre cheia e sediou incontáveis eventos. Infelizmente, agora isso é passado.

No início de 1980, o casal Márcia d’Haese e o saudoso Hialmar criaram a personagem que tornou-se símbolo do cristianismo no Brasil. Em 1989, um desentendimento entre o casal e a Luz e Vida terminou em separação. A editora ficou com o Smilinguido e o sucesso se repetiu em vários formatos. Ao contrário do que acontece na natureza, a formiguinha voou alto.

A pandemia acentuou a compra on-line de livros e correlatos. Grandes redes como Cultura e Saraiva tiveram falência decretada e o mercado cristão também foi atingido pela crise advinda da mudança de hábitos.

Conheci centenas de livrarias evangélicas em todo o país. Meio constrangedor revelar que a maioria das lojas estava mais para bazar do que livraria. Profusão de camisetas e xícaras e uma minúscula quantidade de livros e bíblias. De certa forma, isso ajuda a entender o apocalipse nos trópicos e no cenário gospel.

Hoje a fé é monetizada e a evangelização trafega por Wi-Fi e pixels. Crentes e incréus frequentam as redes sociais bem mais que teatros e igrejas. Embora cercados de seguidores, vivemos uma crescente epidemia de solidão. Sendo um pouco saudosista (vintage?), lembro que fomos (re)conhecidos como o “povo do Livro”. Hoje, os adjetivos que nos impingem são quase impublicáveis.

Não seria hora de voltar ao primeiro amor e revigorar nossa paixão pelas palavras? Mesmo que a compra seja via e-commerce e a leitura seja em formato digital, a literatura pode nos tirar do tremedal de lama da ignorância. Amém, igreja? (SP)