Quando o altar vira palanque do preconceito, o silêncio da igreja tropeça na lei. Conhecido por se apresentar como “ex-travesti”, o pastor Flávio Amaral foi indiciado por homotransfobia e injúria. Ele acusou a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) de não pertencer ao Dia da Mulher. Segundo ele, “mulher não vira mulher, mulher nasce mulher”, discurso que ecoa como segregação cúmplice da fé.
Amaral costuma usar o púlpito e as redes sociais para propor a chamada “cura religiosa” da população LGBTQIA+. Já chegou a rotular pessoas como “filhos da ira e da perdição” e afirmar que o padre Fábio de Melo estaria deprimido por “falta de sexo”, retórica tóxica com aroma de caça-likes.
O inquérito foi conduzido pela DECRIN (Delegacia de Crimes por Discriminação) da Polícia Civil do DF, e agora está nas mãos do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). Se a denúncia for aceita e confirmada, Amaral enfrentará de 6 a 15 anos de prisão para cada crime apurado.
Além desse ataque, o religioso é investigado por ter promovido uma série de práticas de “destransição” e cura gay, o que culminou no suicídio de uma jovem trans em 2023. Erika Hilton e a vereadora Amanda Paschoal (PSOL-SP) foram as responsáveis pelas denúncias que comprovaram o padrão coercitivo de Amaral.
O indiciamento de Flávio Amaral simboliza o custo legal da homofobia que se disfarça de religião. Quando a fé vira fachada, quem salva os alvos de discriminação? A lei, que converte discurso de ódio em crime. Que os preconceituosos coloquem as barbas e o preconceito de molho. (SP)