Quando fé e orçamento público se beijam no altar político, o espetáculo ganha forma e cheira a teatro de conveniência. É o caso do Instituto Assistencial Atitude, fundado em 2016 na Barra da Tijuca e presidido pelo pastor Josué Valandro, líder da igreja frequentada por Michelle Bolsonaro.
Voltada a atendimento social, educação infantil e auxílio a dependentes químicos, a ONG recebeu um total de R$ 1,2 milhão em emendas parlamentares (R$ 500 mil de Alexandre Ramagem e R$ 700 mil de Hélio Lopes), ambos aliados do ex-presidente inelegível.
Interrogações de atitude
✔️ Fé como atestado político?
A presença religiosa parece ter virado via de acesso ao orçamento federal. Apoio privado e apoio político se fundem num discurso social.
✔️ Missão social ou rebranding?
Atender milhares de pessoas é louvável. Mas o roteiro soa à moda: igreja + bolsa + creche + emendas = narrativa de benevolência para diminuir a rejeição pública após ser puxadinho da campanha bolsonarista.
✔️ Vale tudo pelo evangelho?
Ramagem e Hélio Lopes são figuras envolvidas em investigação por golpe e uso indevido de estruturas estatais. A emenda vira ponte entre igreja e atores políticos sob investigação. Como disse certo pastor, “para Jesus vale até gol de mão”?
A dobradinha foi redonda: ONG social, pastor influente, emendas parlamentares e impacto midiático. Mas o capítulo exibe um sistema de fé-politica onde o pressuposto “ajuda para pobres” combina com “olhar para círculo de poder”. No fim das contas, resta a pergunta: o que é ajuda social legítima e o que é cena bem montada? (SP)