Censo 2022 Religiões: Análise de Sérgio Dusilek

Sobre os dados preliminares do Censo 2022 sobre religião:

1) Três preocupações iniciais:

a) A classificação se dá por autodeclaração? Isso pode gerar distorções a partir do próprio trânsito religioso, bem como da assunção de uma identidade religiosa, de uma pertença a um grupo a qual não foi devidamente (e institucionalmente) formalizada;

b) Outra preocupação, que não sei ainda se é pertinente, é se o estabelecimento da linha de corte na faixa etária dos 10 anos não poderia prejudicar grupos religiosos que praticam o pedobatismo como os católicos e os luteranos. Isso afetaria o percentual deles? Quantas crianças católicas e luteranas existem (para ficar em dois exemplos) abaixo dos 10 anos e que são contadas como membros dessas igrejas? A sua exclusão prejudicaria, diminuiria o seu percentual?

c) Um erro crasso é considerar o luteranismo como protestantismo de missão e não de imigração.

2) Sobre o grupo religioso que mais cresceu, algumas constatações e indagações. Estamos falando da religiosidade afro.

a) Impressiona a evolução educacional do grupo. Tem baixa taxa de analfabetismo (2,4%; nos evangélicos é de 5,4%), e com formação superior completa de 25,5% (contra 14,4% dos evangélicos). Algumas possíveis ilações a partir daqui, ainda que aguardando mais dados a serem divulgados posteriormente:

b) A baixa adesão evangélica ao ensino superior já seria resultado dos movimentos de empreendedorismo da fé e da campanha contra o ensino universitário?

c) Estaria nesta diferença na formação um possível vetor que explicaria a ausência de maior formação crítica entre os evangélicos, resultando na adesão ao bolsonarismo e ao chamado nacionalismo cristão que ele representa?

d) O fato dos evangélicos terem mais do que o dobro da taxa de analfabetismo das religiões afro, indicaria o progressivo abandono da chamada Escola Bíblica Dominical? Quando ela surge na Inglaterra seu objetivo primeiro era o da alfabetização através do uso da Bíblia. Este possível abandono da Escola Bíblica dominical não explicaria certo analfabetismo bíblico, resultando na adesão dos evangélicos a proposições que no fundo são anti-evangélicas? Exemplo disso: a defesa do armamento da população (os chamados CAC´s) e o fazer arminha na igreja.

e) Impressiona também seu grande crescimento percentual (triplicou, saindo de 0,3% para 1%). Arrisco dizer que esse crescimento se deu sobre a classe média, em virtude do preparo maior e crescente dos líderes religiosos deste segmento.

3) Sobre o crescimento evangélico (de 21,30% para 26,9%), algumas ponderações:

a) Me parece seguir apontando, pela via estatística, que o ecumenismo no Brasil segue sem força, uma vez que o crescimento evangélico primordialmente se dá sobre os católicos, isto é, com o decréscimo dos católicos. Em que pese parecer haver um movimento crescente no trânsito religioso de ida/retorno de evangélicos para o catolicismo;

b) Ele é menor do que o esperado, projetado (alguns falavam em 30%). Ainda que tenha havido o aumento de 5,2 pontos percentuais, ou 20,81%, ele foi menor do que o projetado. Sobre isso, algumas conjecturas iniciais:

3.1) A frustração do crescimento seria resultado da perda de muitos fiéis entre os evangélicos, os quais foram perseguidos pelo bolsonarismo que se instalou nas igrejas?

3.2) Teria o bolsonarismo, na sua tipificação de nacionalismo cristão, frustrado muitos fiéis que desistiram de viver uma religiosidade evangélica beligerante e não promotora da paz?

3.3) Será que a visibilidade negativa que a associação da liderança midiática evangélica teve com o bolsonarismo, com todos os desgastes decorrentes, impediram um crescimento maior, uma repulsa por parte da população em participar de uma igreja evangélica? Algo como, eu sugeriria, um “efeito Malafaia”, ou a “ressaca Malafaia” (logicamente que aqui é preciso incluir sua trupe)?

3.4) Outro questionamento: será que o crescimento dos evangélicos, antes de 2018, não apontaria para uma projeção que ultrapassasse os 30% da população, mas que o efeito do bolsonarismo e da partidarização das igrejas, não teria aplainado a curva, quando não feito ela inverter a tendência? Veja, seria necessário um acompanhamento e comparação de números até 2017 e após 2018, ou ainda promover novo levantamento em 2027.

3.5) Impressiona a correlação na mostragem censitária entre o percentual nos estados entre os sem religião e os evangélicos. Teria alguma conexão, correlação entre esses dados? Qual/Quais? Por exemplo: os evangélicos estariam despertando um certo cansaço em razão de tanta e controversa exposição no espaço público e na mídia?

3.6) Estados com elevado percentual de evangélicos não são os que deveriam apresentar melhores condições de vida, tendo em vista o mito colonizatório construído de que os países dominados pelo imperialismo protestante se encontram “melhor” do que os colonizados pela católica Península Ibérica? Mas não foi o Acre (44,4% de evangélicos) que entregou ao Brasil Hildebrando “serra elétrica” Paschoal? Não é o Rio de Janeiro disputado por traficantes, milícias e grupos armados que se enxergam como evangélicos?

Eis algumas inquietações iniciais a partir da divulgação preliminar, pelo IBGE, dos dados sobre Religião atinentes ao CENSO de 2022.

Pr. Sérgio Ricardo Gonçalves Dusilek

2 Comentários

  • Maria José de Oliveira

    Por que o texto está neste formato?

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